sábado, 8 de agosto de 2015

Vacina contra HPV é uma das principais armas de combate ao vírus

O Sistema Único de Saúde (SUS) vai começar a oferecer a vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) a partir de 10 de março para meninas de 11 a 13 anos, em postos de saúde e em escolas públicas e privadas de todo o país. A dose, que ajuda a proteger contra o câncer de colo do útero, estará disponível nos 36 mil postos de saúde da rede pública durante todo o ano, de acordo com o ministério. 

Em 2015, o público-alvo serão as meninas de 9 a 11 anos e, a partir de 2016, a ação ficará restrita às meninas de 9 anos. Até 2016, o objetivo do ministério é imunizar 80% do total de 5,2 milhões de meninas de 9 a 13 anos no país. Embora seja oferecida no SUS para uma faixa etária restrita, a vacina é recomendada para jovens de 9 aos 26 anos, uma vez que o vírus é transmitido no início da vida sexual. As faixas etárias que estão fora da campanha do SUS precisam recorrer à rede particular para tomar a vacina. Embora não substitua outros métodos de prevenção nem permita o abandono do uso de preservativos, a vacina é mais uma arma contra a doença, já que se trata de um vírus altamente contagioso.

HPV - vírus do papiloma humano, do inglês -, traz dados alarmantes: segundo o Ministério da Saúde, 137 mil novos casos são registrados por ano no Brasil. Esse vírus é tido como o responsável por 90% dos casos de câncer de colo do útero, além de atuar como protagonista em casos de câncer de pênis. Ele é o principal responsável por inúmeras doenças da região genital - que compreende colo, vagina, vulva e anus nas mulheres e, nos homens, pênis e anus. Assim como as verrugas na região genital e da boca, os cânceres causados pelo vírus do papiloma humano são recorrentes: no colo do útero, vulva, pênis e pele. Segundo o ginecologista Claudio Emilio Bonduki, da Unifesp, o HPV ainda pode levar ao câncer de vulva e de pele e provocar lesões na região oral, língua, faringe e anus, devido ao contato em sexo oral ou anal. 

A vacina contra HPV já existia para o público feminino. Mas os homens também têm importante papel como vetores do HPV, ou seja, eles o carregam assim como as mulheres, como explica a ginecologista Maricy Tacla, do Hospital das Clínicas. "Enquanto eles não forem vacinados, assim como toda a população, pessoas continuarão a ser infectadas", alerta. Por isso, desde o final de maio de 2011, eles também podem ser imunizados contra o HPV. 


Tipos de vacina 

Há dois tipos de vacina contra HPV no Brasil: a bivalente e a quadrivalente. Ambas protegem contra, no máximo, quatro tipos do vírus, entre os mais de 100 existentes. Isso significa que, mesmo com a aplicação da vacina, a proteção não é 100% garantida.

A bivalente protege apenas contra os tipos 16 e 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero, vagina, vulva, anus e pênis. Já a quadrivalente, que foi recentemente liberada para o público masculino, protege contra esses antígenos e também contra os tipos 6 e 11, os principais agentes de verrugas genitais e condilomas, que são as verrugas genitais produzidas pelo vírus. 

Hoje, o foco principal da vacina está em mulheres dos 9 aos 26 anos, no caso da quadrivalente, e dos 10 aos 25, na bivalente - em especial para aquelas que ainda não iniciaram sua vida sexual. Segundo Maricy Tacla, isso acontece porque, teoricamente, a mulher ainda não teve contato com o vírus, o que aumenta a eficácia da aplicação. Para os homens, vale a mesma faixa etária, lembrando que eles podem tomar apenas a quadrivalente. 

Contraindicações e efeitos colaterais 

Fora a restrição de idade - que acontece porque a Anvisa permite apenas a aplicação da vacina em públicos onde estudos clínicos comprovaram sua eficácia - e as pessoas que são alérgicas a algum componente da medicação, ainda não há outras contraindicações. Até mesmo portadores do vírus HIV ou pessoas que já tiveram ou têm HPV e outras DSTs, lembra Bonduki, podem tirar proveito da imunização, já que existem vários tipos de vírus HPV, não apenas aquele que afetou o portador. Existem, ainda, os casos chamados "off label": pessoas fora dos grupos especificados pela Anvisa, mas que podem tomar a vacina por solicitação médica. 
Além disso, não há evidências de efeitos colaterais, apenas possíveis desconfortos locais, como edemas e dor onde a injeção foi aplicada. Estudos também indicam não haver risco na aplicação dessa vacina em conjunto com a da Hepatite B. 

Como funciona 
A aplicação é feita em três etapas. Com a bivalente, a segunda dose é aplicada depois de um mês da primeira e, a terceira, após cinco meses da segunda. Já na quadrivalente, a segunda fase acontece apenas dois meses após a primeira e, a terceira, também seis meses depois da inicial. 

A vacina apresenta substâncias obtidas do vírus do HPV, modificado em laboratório. Ao serem aplicadas no nosso organismo, essas substâncias estimulam o sistema imunológico a combatê-las, o que desencadeia a produção de anticorpos neutralizantes. Até agora, os cientistas conseguiram confirmar que esses anticorpos duram dez anos. 

Para aqueles que não se incluem no grupo de risco a ser vacinado pelo SUS, mas está interessado em tomar a vacina, é necessário procurar um ginecologista ou um urologista, que fará a recomendação da vacina. O clínico geral também pode ser procurado e, para as crianças, o ideal é consultar um pediatra. 

Entenda os riscos do HPV 

O vírus HPV é um grande vilão da saúde, em especial feminina. Além de câncer e doenças na região genital das mulheres e no pênis e ânus dos homens, o vírus HPV é relacionado a lesões e neoplasias na região da orofaringe - que compreende a cavidade bucal, da raiz da língua até a epiglote, uma espécie de lâmina que fecha a ligação da faringe com a glote -, como carcinomas (tumores malignos) e uma doença chamada papilomatose laríngea recorrente, que leva a lesões na laringe e que, segundo Maricy, tem difícil tratamento e pode levar a danos importantes nos órgãos dessa área do corpo. 

Por ser uma DST - doença sexualmente transmissível -, a principal via de proteção é a camisinha. Entretanto, nem o seu uso livra da contaminação. O ginecologista Bonduki lembra que o contato da região de vulva, onde a camisinha não protege, pode permitir a transmissão. 

Demorou, mas finalmente o combate ao papiloma vírus humano (HPV) entrou na ordem do dia e está sendo estudada a adoção de medidas concretas nesse sentido pelo poder público. Como existe vacina contra essa doença, que causa a morte de milhares de homens e mulheres por ano, essas são providências que já deveriam ter sido tomadas. Há estudos que comprovam que de 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas - e homens, numa porcentagem menor - são infectadas por um ou mais dos vários tipos de HPV. A maioria das infecções é combatida espontaneamente pelo organismo, mas uma parte razoável se transforma em tumor canceroso.
O que se espera agora é que o governo federal acelere as providências necessárias para a distribuição gratuita da vacina em todo o País. Se isso já tivesse sido feito, não se estaria agora às voltas com a suspeita de irregularidades na compra, pelo governo do Distrito Federal, de vacinas a preço três vezes superior ao do oferecido pela Organização Pan-Americana de Saúde, como mostrou reportagem do Estado. Certamente cansado de esperar pela ação do Ministério da Saúde - a exemplo do que estão tentando fazer também o Amazonas e o Rio de Janeiro -, ele resolveu se adiantar a ela.
"O HPV pode levar ao câncer de colo do útero. Uma morte inaceitável. Por isso, decidimos agir", afirma a gerente da Secretaria da Saúde do Distrito Federal que cuida do setor de oncologia, Cristina Scandiuzzi. Segundo ela, esse tipo de câncer é a quinta causa de morte de mulheres ali, com mais de 80 casos por ano.
Com a devida autorização dos pais, a secretaria espera fazer a vacinação de todas as adolescentes - tanto nas escolas públicas como privadas - entre 1.º e 25 de abril. Muitas vidas serão salvas, o que é o mais importante, mas mesmo assim é lamentável que esse resultado seja atingido a um preço tão alto. Cada dose da vacina - são necessárias três - custará R$ 75,50. Se fosse adquirida da Organização Pan-Americana de Saúde, seu preço seria de US$ 13,8 (cerca de R$ 28).
É de esperar que os governos do Rio de Janeiro e do Amazonas, onde foram aprovadas leis que os autorizam a oferecer vacinação gratuita contra o HPV na rede estadual, sejam mais cuidadosos na compra do produto, evitando o preço exagerado - é o mínimo que se pode dizer - do Distrito Federal.
O problema do HPV deixa mais uma vez evidente a incapacidade da área de saúde do governo federal de reagir com a indispensável rapidez ao desafio de doenças graves. Neste caso, com a agravante de que a solução é fácil, tendo em vista a existência de um medicamento comprovadamente eficaz. A vacina reduz a incidência de infecções persistentes e a probabilidade de desenvolver câncer de colo de útero em mais de 90% das mulheres imunizadas.
Ao participar de um debate na Comissão de Assuntos Sociais do Senado sobre projeto da senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), que estabelece a vacinação gratuita contra o HPV para mulheres de 9 a 40 anos, o secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou que se estima em R$ 600 milhões anuais o custo da aplicação da medida, com prioridade para as adolescentes, que constituem o grupo mais vulnerável à doença.
Essa parece ser mesmo a intenção do governo, pois se sabe que o Ministério está negociando com fabricantes da vacina um acordo para a transferência de tecnologia para sua produção aqui. Se a negociação chegar a bom termo, ela poderá ser distribuída gratuitamente aos Estados. Mas, como isso pode demorar, o mais correto é, nesse meio tempo, comprar a vacina da Organização Pan-Americana de Saúde.
Por duas razões. A primeira é a gravidade do problema. Estima-se em mais de 18.400 os novos casos da doença e em 4.800 as mortes que ela provoca por ano. E sua incidência é maior entre as mulheres de baixa renda e menor escolaridade das Regiões Norte e Nordeste.
A segunda é que aquele custo é relativamente barato, se considerarmos as vidas que a vacinação salva e também que os gastos com o tratamento da doença que não se evita, na rede pública de saúde, são muito mais elevados.

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