Prof. Marcos Coimbra
O
processo de evolução humana concretiza-se através do progresso do pensamento do
homem, do avanço da ciência, das revoluções tecnológicas e dos processos
civilizatórios desencadeados. Trata-se de um processo complexo, desagregador de
conjuntos, montador de novos núcleos e ao mesmo tempo plural e tolerante.
A civilização é entendida como um processo de busca do
conhecimento, de pensar, sentir e agir. É cultura, acolhendo conceitos,
definições e interpretações.
A
caracterização da identidade nacional consubstancia-se, inicialmente, na
existência da identidade cultural, a qual é função de fatores históricos,
científicos e psicológicos (religiosos). Sofremos influências dos portugueses,
negros, índios e imigrantes. Daí resultam uma série de aspectos positivos, tais
como: criatividade, capacidade de adaptação, senso estético, inteligência,
índole pacífica, alegria e outras, como também algumas características
negativas: indolência, tolerância, sensibilidade extrema a influências
episódicas, tecido social frágil, oportunismo etc. Os fatores básicos da nossa
nacionalidade são provenientes das raízes evolutivas (origem, formação,
ambiente, situação geográfica, povo e cultura).
Temos uma
identidade cultural forte, baseada em uma língua comum, na raça mestiça, com os
imigrantes integrados, uma bela arte barroca, a abundância de comidas típicas,
uma natureza tropical exuberante e uma linda música. Porém, para haver
identidade nacional é preciso que o povo possua a consciência de
nação, representada pelo dever do governo de defender o trabalho, o capital e o
conhecimento nacionais. A auto-estima une os dois conceitos, gerando um
fenômeno cultural que varia no tempo, dependendo do êxito da nação em
transformar em realidade os objetivos do desenvolvimento. Assim, a nação é uma
construção coletiva a partir de uma identidade nacional. Desta forma, é
imperioso que, além da identidade cultural, exista um projeto nacional de
desenvolvimento. Temos exemplos de países que possuem uma forte identidade
cultural, como o Brasil, e outros detentores de uma elevada consciência de
nação, apesar de não ter um grau elevado de identidade cultural, como o Canadá.
Assim,
identidade nacional é o somatório de valores culturais resultante da vivência,
que, apesar de incluir as discrepâncias ou heterogeneidades regionais e
peculiaridades grupais, seja caracterizável por um traço que permita a
definição de um perfil multidimensional hegemônico baseado em homem,
território, instituições, língua, costumes, religiões, história e futuros
comuns.
A
identidade brasileira é proveniente do nascimento da nação, representado pelo
idioma, etnias, bem como através do solo, clima, vegetação e relevo. Nossa base
cultural foi constituída pelo amálgama do processo de integração de
portugueses, negros, índios e imigrantes. Os portugueses contribuindo com a
língua, o cristianismo, a noção de família e um certo desleixo. Os negros com o
candomblé, as crendices da senzala, o uso de instrumentos musicais, uma comida
característica, o papel da ama-de-leite, a adaptabilidade e a alegria. Os
índios com o elevado sentimento nativista, a desconfiança e uma certa preguiça.
Os imigrantes, excedentes populacionais em suas respectivas economias
nacionais, também influenciaram com a contribuição de suas diversas
culturas originais.
Dos
principais valores formais apontamos como sendo o principal deles o Estado, o
qual é resultado de uma longa evolução na maneira de organização do poder. Daí
resultando os valores das principais Instituições: forças armadas (elevado grau
de aceitação e confiabilidade), imprensa (garantia da livre expressão do
pensamento), congresso e políticos (menor prestígio), esportes (maior
aglutinação social do país), artes, música, folclore e símbolos (formação
humana e evolução não são tão ricas como deveriam), carnaval (momento mais
festejado) e a educação (processo de desenvolvimento do indivíduo que
implica a boa formação moral, física, espiritual e intelectual,
objetivando seu crescimento integral para um melhor exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho).
É
de se ressaltar a interferência no processo de identidade nacional por
intermédio de hábitos impostos pela “modernidade”: padrões e massificação da
mídia, com o objetivo de lucro, arquitetura, natal, “halloween”, imitação de
hábitos e costumes alienígenas, gerando frustração, escapismo, dependência e
impotência e influenciando negativamente a opinião pública. Não é demais
salientar o papel dos veículos de comunicação. A televisão ocasionando a
substituição do hábito de leitura pelo uso de recursos audiovisuais, criando
uma verdadeira ditadura do patrocinador e o círculo vicioso da baixa qualidade
e alta audiência, com a programação alterada a cada momento em função do índice
de audiência. Desta forma, falsos valores são impostos, com a centralização da
geração em SP e no RJ, com a existência de formadores de opinião sem
compromissos morais e éticos. Há o monopólio da audiência por uma única rede de
televisão e o controle gramsciano dos significados. O rádio é o
veículo de recepção ainda mais presente nos lares e os jornais e revistas
apresentam, de um modo geral, a notícia como mercadoria para um leitor que é
considerado um cliente. Excesso de sensacionalismo e denuncismo, com o
predomínio do anunciante, o qual paga mais ou menos, em função da circulação
verificada. Pouca reflexão e espírito crítico e uma apresentação incompleta dos
fatos.
Concluindo,
ressaltamos a importância da língua, como indicador de brasilidade e um elevado
grau de integração étnica, devido à ampla miscigenação existente. Como aspectos
negativos, citamos: fraca base cultural, patrimonialismo do Estado,
elites desacreditadas, imediatismo, egoísmo, desconfiança, sonho,
superficialidade, preguiça, euforia, acaso, sorte, depressão. Como aspectos positivos,
destacamos: adaptabilidade, cordialidade, boa convivência, otimismo,
curiosidade, boa fé, orgulho à nacionalidade. Existe ainda uma forte pressão
exercida pelas influências externas e a falta de reflexão e crítica conduz à
crença em falsos valores. Assim, há uma identidade nacional na atualidade,
porém menos consistente que no passado, devido principalmente a falta
de um projeto nacional, ocasionando uma auto-estima baixa.
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