Não
existe uma fórmula para educar filhos, já que cada criança tem uma
personalidade única e cada pai ou mãe tem suas próprias referências no que diz
respeito à educação.
O
fato é que muitas crianças são espancadas diariamente e muitos adultos foram
fisicamente e moralmente maltratados quando crianças, trazendo assim para sua
condição de educadores esse equivocado comportamento para com seus filhos.
A
base para a necessidade da criação de uma lei que proteja as crianças de maus
tratos está justamente na deficiência da formação de seus cuidadores. Quem é
que se preocupava com as consequências psicológicas e emocionais do futuro
adulto quando lhes aplicavam castigos físicos por qualquer manifestação de
desejo próprio?
Tudo
na vida evolui e nos dias de hoje é quase impossível não perceber o quão
equivocadas são as surras e humilhações a que crianças e adolescentes são
submetidos, destruindo a autoestima por um lado e por outro
"fabricando" novos agressores, sem contar quando os excessos
desembocam em ferimentos graves e até morte.
O
QUE PODE DETONAR A AGRESSIVIDADE
A
cultura do bater como forma de educar está impregnada em diversas sociedades,
não apenas na brasileira. Mas o espancamento e os diversos abusos, apesar de
serem em números assustadores, dizem mais respeito a desvios de comportamento e
personalidade pontuais de quem submete os filhos. As causas que detonam a
agressividade física estão associadas a vários fatores:
- Alcoolismo - que muitas vezes aflora a
agressividade contida no adulto
- Despreparo (imaturidade) para lidar com
situações desconhecidas
- Sentimento de impotência diante das
demandas das crianças e jovens
- Incapacidade de dialogar
- Incapacidade de vislumbrar alternativas
à violência física no momento de impor limites
- Dificuldade de reconhecer o que de fato
provoca a ira, se é algo que tem a ver diretamente com o fato ocorrido ou
se tem a ver com questões pessoais mal resolvidas, do tipo estresse no
trabalho ou no casamento.
De
toda forma, sem entrar no mérito do grau de civilidade de quaisquer agressões,
tanto a agressão física quanto a moral são, em princípio, atitudes covardes
quando desferidas a alguém mais frágil ou hierarquicamente submetido. O que
pode uma criança ou jovem diante da autoridade de seus pais ou cuidadores?
MARCAS
TRAUMÁTICAS
Perder
a paciência é humano e todos temos nossos limites e nossos momentos de
estresse. É também impossível dizer que todas as crianças são anjinhos de
temperamento dócil, mesmo porque faz parte do desenvolvimento saudável das
crianças teimar, desafiar e fazer manha, mas na verdade não há nada que justifique
surras e palavreados grosseiros: tanto uma como outra atitude podem provocar
marcas inesquecíveis e traumáticas.
A
Lei da Palmada só existe em função dos incontáveis excessos cometidos, já que é
impossível ditar regras de educação às famílias sob pena do Estado interferir
em crenças e valores pessoais. Mas é dever do Estado proteger jovens e crianças
de maus tratos, inclusive quando desferidos pelos próprios pais. Penso que seja
também dever da comunidade denunciar tais abusos.
Muitos
questionamentos são pertinentes, não apenas com relação ao comportamento
agressivo dos pais com relação aos filhos. A Lei da Palmada cria uma polêmica
construtiva que remete a sociedade como um todo a várias reflexões, muitas
delas incoerentes e paradoxais:
- Qual pai ou mãe, mesmo nunca tendo dado
um tapa em seu filho, já não teve o impulso de fazê-lo?
- Quem sabe exatamente onde está o limite
do bom senso quando uma criança ou jovem insiste em desafiar a autoridade
paterna?
- Quem disse que ofensas e gritos não
atingem de forma contundente o desenvolvimento psicológico e emocional de
um filho?
- O fato de você ter apanhado fez de você
uma pessoa melhor porque você entendeu que bater só gera mágoa e raiva e
então não repete esse comportamento com seus filhos, ou fez de você mais
um tirano?
A
Lei da Palmada também prevê casos de tratamento cruel, degradante e humilhante.
Mas o fato é que não sabemos se essa lei - que de certa forma corrobora o
Estatuto da Criança e do Adolescente - terá um efeito educativo e esclarecedor
sobre os pais agressores. Da forma como ela está prevista, se as campanhas
forem bem realizadas (conscientização de mães em carteiras de vacinação, por
exemplo), teremos dado um passo importante para repensarmos valores que não
combinam mais com a consciência desta nova era que se avizinha.
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